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  • Jussara Santos

Para reflexão

Então, é férias ou recesso, como queiram. Se já curtimos família no alvoroço do cotidiano, imagina agora. Assim, pra curtir a vida e a companhia eu e minha irmã fomos bater perna por aí! Parada, Mercado central! Lá pelas tantas, minha irmã me conta o que havia vivido antes de se encontrar comigo. Relato com autorização dela. Pela manhã, depois da ginástica, ela foi ao banco com uma colega de pilates (uma senhora de pela clara). Na porta do banco, estava um rapaz pedindo dinheiro, esse rapaz estava maltrapilho e sujo. Ele dirigiu-se às duas, minha irmã disse que não tinha dinheiro, ao que ele respondeu: “ – ah é, você não, você é a empregada”. Na hora, muitas coisas passaram pela cabeça da minha irmã, mas ela preferiu não responder; entrou no banco e resolveu o que tinha de ser resolvido. Mas, por obra do destino, da energia, sei lá, ao sair do banco, o maltrapilho voltou a pedir dinheiro pra minha irmã, que não pensou duas vezes e respondeu: “- eu não, eu sou a empregada”. E ele ficou lá, com cara de, ahn? Esta situação me fez lembrar outra, agora vivida por mim quando ainda estudava na FALE/UFMG. Eu e meus colegas pegávamos o mesmo ônibus pra seguir conversando. Um dia, no trajeto, uma pessoa entrou pedindo dinheiro, uma ajuda. Essa pessoa foi a todos os meus colegas brancos e passou direto por mim e por Ivan também de pele escura. Nós dois olhamos um pro outro, enquanto meus colegas nem notaram. Na cabeça daquela pessoa estava: preto=pobre/sem dinheiro, branco=rico ou com dinheiro. É preciso entender que a estrutura brasileira é racista, é baseada no racismo, em relações onde cor de pele escura é sinônimo de inferioridade, seja em que nível for. Quando dizem pra mim que na favela ou nos aglomerados não existe racismo, eu rio por dentro e penso: em que bolha essa pessoa vive? Sim, favela não é sinônimo de igualdade racial ou étnica entre as pessoas, lá existem o branco e o preto, logo a discriminação está lá também. É mais cômodo para alguns acreditar que o preconceito é social e não racial, mas o racial fala e sempre falou mais alto. Não adianta dizer que tem um amigo, uma amiga negra ou se admirar quando digo que sofro racismo com argumento chulo: “- Mas você tão bonita!” Ou seja, feia pode sofrer racismo. Outro dia, estava em um táxi e o motorista parou ao lado de um colega taxista e mexeu com ele: “- E aí negão, cê ficou bunito nesse carro!” E completou pra mim: “- Ele é meu parça, amigão meu”. Eu perguntei: “- seu parça não tem nome”? Ele foi mudo até chegar no endereço que eu havia passado. Sim, os negões, as negonas têm nome e não adianta falar que é apelido, nós sabemos quando é apelido. Você não sai chamando ninguém de brancão por aí, eu nunca chamei. Jordan Peele quando recebeu o prêmio de melhor diretor iniciante no Director guild awards contou que foi convidado para dublar um emoji, na animação Emoji o filme. Adivinhem, o emoji era o cocô, precisa explicar? O ator escolhido para interpretar o personagem Cascão no filme Turma da Mônica: Laços é branco, nem o ator entendeu, mas eu entendi, minha irmã também e espero que se você não entendeu, pelo menos tente entender. Essa estrutura racista é que faz com seja natural retirar o nome daquele homem preto e chamá-lo apenas por negão, isso vale para o vendedor, para o amigo, para o inimigo, para o vizinho e por aí vai. Essa estrutura é que permite que bonecas e bonecos negros não sejam vendidos, que escritores e escritoras negras não sejam lidas, que achem natural não ter professoras e professores negros nas escolas, nas universidades. Fica a reflexão, onde você coloca o seu racismo? Em tempo: Jordan Peelle premiado pelo filme Corra não dublou o cocô.

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