Você já fez terapia alguma vez? Você conhece alguém que não faz ou nunca fez terapia? Eu conheço. Muitas pessoas ainda veem essa prática como coisa de gente rica ou coisa de gente doida ou ainda coisa de gente mal resolvida. Ah, eita expressãozinha essa(!),“gente mal resolvida” e seu oposto: “gente bem resolvida”? Temo as duas expressões e não sou nem uma coisa nem outra, por quê? Porque sou gente, logo sou um poço de questões e essas sim posso bem resolver, mal resolver ou não solucionar nenhuma. Eu faço terapia e, vez em quando, me pego a imaginar o esforço que os “bem resolvidos” devem fazer para se sustentarem no mundo, diante dos tsunamis pessoais que nos assolam, sem nenhum tipo de alerta meteorológico. Podem dizer que não, mas algum caminho encontram para se reerguerem dos escombros e ainda bem que fazem isso. Uma vez revelado que faço terapia, revelo também que a frase que intitula o artigo deste mês não é minha. Ela me foi dita pela terapeuta reikiana Andreza Dias em uma de nossas longas conversas, através das quais tento responder algumas das perguntas do meu “poço perguntatório”(!) O bom de partilhar dúvidas, angústias é isso, saímos da conversa pensando naquilo que mais nos remexeu e que merece maior cuidado, maior reflexão. Certa vez, ouvi de uma personagem cinematográfica que não existe diferença entre aplauso e vaia, ambos fazem barulho. A diferença estaria mesmo em como reagimos diante de cada um. Quando produzimos algo, seja no trabalho, na família e mesmo entre amigos, esperamos uma resposta externa, esperamos o tal do “aplauso” que parece ser o que nos sustenta. Se o aplauso não vem, sentimos uma certa frustração, um certo vazio. Mas por que esperar sempre por uma resposta externa, seja ela a vaia ou o aplauso? Tudo bem que precisamos de estímulos, mas não podemos nos estagnar caso eles não venham ou demorem a chegar. Concordo com a terapeuta quando ela diz que, se nos aplaudimos internamente, ou seja, se acreditamos no que fazemos, o que menos importará será a resposta externa. Seja qual for, ela não nos derrubará. Pensando no campo da arte, mais especificamente na literatura, meu amor maior, o que significaria o aplauso externo? Seria a consagração pelas massas, seria a eleição pelos críticos, seriam as premiações? Quantas pessoas deixam de escrever porque não recebem esses aplausos de crítica e público. Quantos ótimos textos e escritores e escritoras maravilhosas nunca serão conhecidas? Como medir uma aprovação ou uma desaprovação? Ter um texto literário bem recebido é maravilhoso, mas não escreva apenas para ser aplaudido ou aplaudida. Se aplauda, crie aquilo que você acredita, esteja atenta e atento ao seu tempo e feito a boa música seu texto permanecerá. Para além da literatura, caso você leitor/leitora deste artigo não escreva, sugiro que não sustente sua vida em respostas que vêm de fora, elas costumam ser cruéis e aí, como você vai seguir diante de certas crueldades? O cotidiano produz feridas, mas com contribuições positivas, por exemplo diferentes linhas terapêuticas, bate-papo com amigos, leituras diversas, podemos tentar fechá-las, quem sabe um retalhinho colorido aqui, outro ali. Mas você pode se perguntar: e as cicatrizes? Bom, ficam cicatrizes, internas ou não, nossas indeléveis tatuagens. Mas o mais importante é que, para além do mero clichê, você descubra seu caminho sendo você, aproveitando tudo que vier, seja a vaia, seja o aplauso, aproveitando a vida, a sua vida.
Jussara Santos