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Jussara Santos

Tragédias mais que anunciadas




O que dizer de tantas tragédias ocorridas no Brasil, umas mais anunciadas que outras? Em relação aos Yanomamis sendo deixados à própria sorte, vejam, o desgoverno que estava nos desgovernando disse em alto e bom tom: “no que depender de mim, em meu governo índio não terá direito à terra”. Até onde eu estudei e acredito, quem deveria pedir autorização para utilizar alguma terra seriam os não indígenas, pois chegaram depois, só ocupam o espaço que ocupam porque passaram por cima de pessoas, desrespeitaram, abusaram. Alguns e algumas chamam isso de co-lo-ni-za-ção, eu chamo de exploração mesmo, exploração naquilo que ela tem de pior. Onde estão os culpados? Tenho visto a replicação sem fim de imagens de indígenas subnutridos, pele e osso, uma hemorragia fotográfica. É preciso noticiar (?) sim, é preciso divulgar (?) sim, mas ali há pessoas, seres humanos, corpos que devem ser respeitados. Corpos que carregam uma carga emocional e cultural gigantesca, então, eu escolhi não expô-los. Porém, manifesto minha revolta e afirmo que a destruição de povos originários vem de longa data. Querem exemplos que só parecem simples (?) Há muito tempo, lá, quando o atual presidente assumiu muito bem o Brasil surgiu a lei 10.639 (alteração da lei 9.394/1996) que determinava a inclusão nos currículos escolares do estudo da história e cultura afro-brasileira. Depois de um período incluiu-se o estudo da cultura dos povos originários também. Lá se vão uns 20 anos. Eu pergunto: essas leis estão sendo de fato cumpridas no interior das escolas brasileiras? Como tem se pensado questões sobre a população afro-brasileira e indígena em nossas salas de aula? O que alunos e alunas brasileiras têm produzido sobre os temas em questão? Pensando o país de modo geral, a minha resposta é: nada. Lógico, isoladamente há projetos aqui e ali, mas de modo amplo, não tenho visto nada não. Infelizmente, povos originários brasileiros foram reduzidos ao dia 19 de abril (sempre alguém lembra do refrão e cantarola – “todo dia, era dia de índio” ). Por aí, ainda se vê, mais uma vez, infelizmente, criança com rosto pintado, aprendendo a fazer cocar com cartolina e EVA, fazendo uma dancinha e batendo na boca. Em tempos de tão necessária exposição pra uns e umas, alguém orgulhoso posta a foto e legenda: “meu indiozinho”. Se é professor/professora, que tal interromper sua aula, cada vez que ouvir coisas do tipo: “só existe índio no Brasil”. Alunas e alunos se surpreenderam quando eu disse que há grupos indígenas em outros países. Houve quem achasse que era mentira, então, mandei, o verbo é esse mesmo, mandei pesquisar e estudar. Povos originários estão sendo dizimados mundo afora. Atualmente, na Austrália, existe um movimento que reivindica o rosto verdadeiro daquele país. Aquele rosto escuro, vocês sabem, aquela pele escura que não estampa as capas de revista por lá. Há quem diga, ouvi certa vez, que “a Austrália é o Brasil que deu certo” - já sabem o motivo, não é mesmo(?) Pele escura escondida ou na dela, gente branca, olho claro, cabelo louro, feliz e IDH muito bom. Nem rindo. Mas voltando, a nosso país: que tal ler e divulgar textos de escritores e escritoras indígenas, que tal estudar a cultura dos povos originários pra divulgar aquilo que é necessário, importante, fundamental, que tal solicitar o cumprimento de leis que estão longe de serem cumpridas nas escolas brasileiras? Que tal contribuir pra que jovens brasileiros não saiam por aí dizendo que cultura indígena não existe em outros lugares? Recentemente, parece que não tem relação, mas um aluno me disse que não acredita que o homem foi até a lua. Questionado por mim, disse que não acredita porque lá é muito longe. Achei a fala preocupante para um jovem, porém pensei na deformação de nossos estudantes que a cada dia se amplia. É preciso que, futuros formadores e formadoras de outras pessoas, de outros pensamentos e opiniões, conheçam o real Brasil, acreditem que ele existe, valorizem, aprendam a respeitar culturas milenares. Caso contrário, se chegarem, por diferentes caminhos a cargos de poder, contribuirão para o extermínio de diferentes culturas, afinal, elas são desconhecidas e desnecessárias pra eles. É isso.

Eu sou Jussara, aquela que não posta foto de professor atravessando a nado um rio, uma correnteza, com um livro didático na mão e com a legenda “este sim é herói”, porque não vê a menor graça nisso.

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